DÍLI – TIMOR LESTE —
O que lhe passou pela cabeça quando entregou, na passada semana no Terreiro do Paço, a camisola do Benfica campeão nacional a sua santidade o papa Bento XVI?
— Sabe que já tinha tido oportunidade de conhecer o anterior papa, João Paulo II, e de lhe oferecer uma camisola do Benfica, quando fomos, há uns anos, a Roma jogar com a Lazio na pré-eliminatória da Champions? No dia do jogo uma delegação do Benfica foi visitar o papa e eu, como estava a recuperar duma lesão, fui convidado a integrá-la. Foi uma emoção tremenda conhecer João Paulo II.
— E com Bento XVI?
— Senti um misto de alegria e orgulho. Não é todos os dias que se tem a honra e o privilégio de se estar perto do santo padre e sendo eu católico constituiu um momento muito importante. É mais uma coisa que fico a dever ao Benfica.
— Teve um sabor especial poder oferecer ao papa uma camisola de campeão?
— Olhe, até teve. Sua santidade nem imaginaria estar a receber uma das primeiras camisolas da nova época e muito provavelmente nem estaria ao par da circunstância de o Benfica ter acabado de conquistar o título. Mas aquilo que vi foi o papa a apreciar muito o gesto e a olhar para a camisola com um ar ao mesmo tempo entre o espantado e o entusiasmado. Gostei muito de lhe oferecer a camisola dos campeões nacionais.
— Esta época de 2009/2010, de Jesus ao papa, pode dizer-se que foi, para o Benfica, abençoada?
— Foi. Não será, até, exagero dizer-se que tudo correu bem, excepção feita, quanto a mim, a dois amargos de boca, a eliminação precoce da Taça de Portugal e depois a forma como saímos da Liga Europa, frente ao Liverpool. Julgo que podíamos ter chegado à final e quiçá vencê-la. Tínhamos equipa para isso, muitas das equipas à partida tidas como favoritas foram ficando no caminho e aquilo que fizemos acabou por saber a pouco.
— O que é que falhou? Tinham jogos a mais nas pernas?
— O que falhou? Olhe, a indisponibilidade dalguns jogadores, talvez algum excesso de confiança por termos conseguido dar a volta ao resultado no jogo da primeira mão, facto que poderá ter criado a convicção de que o jogo lá estava ganho. Até começámos bem a partida mas sofremos um golo um tanto ou quanto esquisito e depois o Liverpool mostrou-se uma equipa inspirada. E depois não tivemos estrelinha. Reduzimos a desvantagem e tivemos ocasião para dar a volta ao jogo mas aquele livre do Cardozo não entrou e a seguir sofremos o golo que sentenciou a eliminatória. Mas, de facto, não fizemos um jogo muito conseguido.
— Quando ouviu, no princípio da época, Jorge Jesus dizer que, com ele, o Benfica ia jogar o dobro, o que pensou?
— Não achei, como sucedeu com algumas pessoas, nem que o mister estava a exagerar nem que estaria maluco. Estava por dentro da confiança que o nosso treinador tinha nas suas capacidades, que tinha uma vontade enorme de vir trabalhar para o Benfica, de fazer do Benfica um clube ainda maior, e embora não conhecesse directamente o trabalho de Jorge Jesus tinha um feedback positivo dalguns jogadores que passaram pelas mãos dele e sabia que se tratava dum grande técnico que procurava a oportunidade de, num grande, mostrar serviço. Afinal, o que acabou por conseguir no Benfica deve ser visto como a continuidade lógica do que já tinha feito no Restelo ou em Braga. Porém, após um ano a trabalhar com Jesus, acabei por perceber ainda melhor o que o levou a dizer o que disse no início da época.
— Não é normal ouvir um jogador que não foi titular elogiar dessa forma o trabalho do treinador…
— Não posso dizer mal por duas razões: primeiro porque é muito difícil ouvirem-me dizer mal, pelo menos publicamente, dum treinador, excepção feita, se calhar, a alguns problemas que tive com Roberto Mancini, na Fiorentina. Confesso que opto por ser politicamente correcto; depois porque, francamente, é impossível dizer mal de Jorge Jesus, gosto imenso dele como treinador, trata-se de alguém que excedeu as boas expectativas que já tinha e que é, sem dúvida, um dos melhores técnicos com quem trabalhei ao longo de todos estes anos.
— Em que fundamenta essa visão tão positiva?
— Jesus tem uma maneira especial de pensar o jogo, transpira futebol por todos os poros e trabalha de forma organizada e metódica. Por tudo isto, mesmo não me pondo a jogar, não tenho razões para dizer mal…