CRÓNICA DE RAP - PARABÉNS AO PORTO PELA VITÓRIA DE AMANHÃ
Ricardo Araújo Pereira, 6 de Novembro 2010 , A Bola.
Ricardo Araújo Pereira, 6 de Novembro 2010 , A Bola.
“A Constituição americana – até hoje considerada como um dos melhores textos jurídicos jamais escritos - enumera o que os Founding Fathers chamaram de «verdades que temos como evidentes». “
A dureza com que a equipa do Sporting foi criticada após a derrota na Luz deixa-me na posição ingrata de ter de a defender. Concedo que a exibição não foi boa, o que acaba por ser normal. Como já aqui escrevi, parece-me que o Sporting não está tão forte como no ano passado. No entanto, os riscos de desflorestação não se confirmam. É verdade que saiu uma maça e o pinheiro acabou por não vir, mas o modo como Aimar e Saviola se mexeram entre o meio campo e a defesa do Sporting deu a entender que os jogadores leoninos estavam bem plantados na relva. No fim do jogo, pareceu-me ver o preparador físico do Sporting a desenraizar o Maniche da entrada da área. E um dos adjuntos teve de enxotar a águia Vitória, que se preparava para começar a fazer o ninho no ombro do Nuno André Coelho.
DESEJO aderir ao novo modelo de crónica futebolística em que o autor revela, para mais que previsível gáudio dos leitores, onde, como e quando, viu determinado jogo, e ainda tem a gentileza de fazer a resenha das opiniões emitidas por comentadores estrangeiros – que são sempre os mais perspicazes e informados sobre o futebol português.
Antigamente, o público não sabia se um cronista tinha assistido a determinado desafio em directo ou se tinha sido obrigado a ver uma gravação, se tinha visto a partida em território nacional ou estrangeiro. Esses tempos, felizmente, acabaram. Informo então que assisti ao Nacional – Porto no Brasil, através de um canal televisivo local. Estava uma temperatura agradável. Ingeri 72 tremoços durante a transmissão. Os comentadores consideram claríssimo o penalty não assinalado após evidente mão de Rolando na área (que bobagem!, exclamaram os comentadores) e perceberam, sem recurso à repetição, que tinha sido mal tirado o fora-de-jogo ao ataque do Nacional. Um dos comentadores, especialmente bem preparado, lembrou a propósito a célebre conferência de imprensa em que Alex Ferguson afirmou que o Porto comprava os seus títulos no supermercado. De facto, o futebol português, visto no estrangeiro, tem outro interesse.
MAIS um escândalo que resulta de inomináveis injustiças: o seleccionador do Brasil, evidentemente seguindo instruções do dr. Ricardo Costa, chamou David Luiz e deixou de fora da convocatória o inigualável Givanildo. Creio que se impõe uma vigília.
ACOMPANHEI, com alguma surpresa, as reacções da imprensa nacional à derrota do Braga frente ao Arsenal. Pareceram-me exageradas. É verdade que o Braga levou 6, mas a equipa portuguesa que lá foi no ano passado levou 5. É possível que, em Londres, ninguém tenha dado pela diferença. O único pormenor que verdadeiramente distinguiu as duas derrotas talvez tenha sido este: desta vez, o presidente da equipa goleada apareceu no aeroporto juntamente com a equipa, à chegada a Portugal.
O comunicado da direcção do Benfica continua a suscitar os mais variados comentários. Uns apoiam-no, outros reprovam-no, e até o treinador André Villas Boas fez uma observação da qual não retive mais do que o facto de incluir a palavra quaisqueres. Uma das críticas mais frequentes, e à qual sou particularmente sensível, tem a ver com a circunstância de o comunicado disparar em direcções tão díspares como a arbitragem e a comunicação social. Também me parece descabido. Ainda se tivessem sido publicadas escutas em que se ouvisse o presidente de um clube a dar indicações a um árbitro sobre o melhor caminho a tomar em direcção a sua casa, talvez se percebessem melhor as referências à arbitragem. Bem assim, se fosse pública outra escuta em que se ouvisse o presidente do mesmo clube a dar indicações a um jornalista sobre o que devia escrever, talvez se compreendesse a desconfiança relativamente à comunicação social - e talvez se percebesse que o tema é, afinal, mais ou menos o mesmo. Uma vez que nada disso sucedeu, o comunicado parece bater-se contra moinhos de vento que mais ninguém vê (nem ouve).
Ricardo Araújo Pereira, 25 Setembro de 2010, a Bola
Se houvesse dúvidas acerca da categoria de André Villas-Boas, elas dissiparam-se ontem. Trata-se de um treinador de nível internacional. Um técnico menor estaria empenhado a tentar perturbar o treinador do seu adversário de hoje no primeiro troféu da época, ou a tentar desestabilizar o outro candidato ao título, o Braga. André Villas-Boas não. Anda entretido a fazer mind games com o treinador do Real Madrid. Não duvido de que os merengues andem de cabeça perdida por causa das azedas considerações de Villas-Boas. «Villas-Boa es muy duro!», terá exclamado Jorge Valdano. «La Liga ya nos va correr mal!», terá suspirado Florentino Pérez.
A conferência de imprensa que o treinador do Porto deu ontem ficará na história do futebol. Primeiro, disse que concordava com o Special One: Villas-Boas e Mourinho não são clones. Depois, disse que discordava do Special One: Villas-Boas e Mourinho tinham quase o mesmo número de jogos como treinador principal antes de chegar ao Porto. Logo, afinal são clones. É um discurso que só está ao alcance das mentes mais complexas. A imprensa do Porto apressou-se a fazer a pesquisa que servia os argumentos de Villas-Boas e descobriu que, antes de ir para o Porto, Mourinho tinha apenas mais um jogo como treinador principal do que Villas-Boas. O problema é que Mourinho não falou em jogos como treinador principal. Falou em trabalho de campo. Antes de ser treinador principal. Mourinho foi treinador adjunto. Não foi observador de jogos, nem redactor de relatórios. Dizem que faz uma diferençazinha.
Como benfiquista, não posso deixar de estar preocupado com o jogo de hoje. Alem de ser orientado por um quase Mourinho, o Porto conta agora com João Moutinho, que no espaço de duas semanas deixou de ser um fiteiro contumaz para, segundo Rui Moreira, passar a ser um quase-Iniesta, e o Benfica limitou-se a fazer uma pré-temporada parecida com a da época anterior, o que significa que, tal como no ano passado, estamos todos imbuídos de um entusiasmo completamente injustificado. É certo que Miguel Sousa Tavares atribuiu o favoritismo da Supertaça ao Benfica, mas, depois de ter previsto a vitória da Argentina no Mundial, MST evidenciou perceber menos de futebol do que certos polvos alemães. Não há nada que nos acalme esta angústia.
Creio que o leitor se lembra da novela. Primeiro, Real Madrid e Barcelona digladiaram-se pelo jogador. Os catalães ofereciam milhões mais o Ibrahimovic e os madrilenos queriam troca por troca com o Kaká. Depois, Chelsea e Manchester United travaram uma luta muito feia para o contratar, com derramamento de sangue e tudo. Foi, por isso, com bastante admiração que vi o extraordinariamente magnífico Bruno Alves rumar a S. Petersburgo. Enfim, estes jogadores que têm o Porto no coração e que Pinto da Costa diz que vão ficar muito tempo só abandonam o clube se for para rumar a algum colosso do futebol europeu.
Quanto ao Sporting, a grande surpresa foi a ida de Miguel Veloso para o Génova. Que se terá passado? O Porto não estava interessado no jogador? É possível que Veloso fosse apenas uma maçã tocada, ao contrário de João Moutinho, que como se sabe já estava em estado de putrefacção. A ponto de certos adeptos do Sporting terem mesmo negado que Moutinho fosse um símbolo do Sporting. Absurdo. Recordo que Moutinho era capitão e tinha na camisola o número 28. Exactamente o número de pontos a que o Sporting ficou do Benfica. Se isto não é um símbolo, não sei o que é.
Ricardo Araújo Pereira, 7 de Agosto in Jornal A Bola
Aqui há fantasmas
Há quem seja fanático quanto à política, quanto à religião, quanto à nacionalidade. Pessoal mente, prefiro guardar o facciosismo para aquilo que verdadeiramente interessa: o Benfica. Os temas menores despertam em mim emoções apropriadas à sua dimensão. Talvez por isso tenha, sobre a Selecção Nacional, um olhar mais distanciado e neutro do que aqueles hooligans aos quais alguns chamam jornalistas.
Durante o Campeonato do Mundo, deixo o fanatismo suspenso. Os jornalistas desportivos fazem o contrário. Passam quatro anos a praticar aquilo que eles tomam por isenção. Em foras-de-jogo escandalosos, talvez o árbitro mereça o benefício da dúvida. Perante o maior penalty do mundo, ficam com algumas dúvidas mas respeitam a decisão. Assim que começa o Mundial, entregam a carteira de jornalista e mandam a imparcialidade às malvas. O código deontológico deixa de valer quando a Selecção joga. Por exemplo, quando Tiago caiu na área do Brasil, percebi logo que não tinha havido falta. Os jornalistas que faziam o relato na televisão começaram a gritar penalty ainda a bola não tinha passado do meio campo. Foram necessárias duas repetições para reconhecerem, muito relutantemente, que ninguém tinha tocado no jogador português. Quando Juan jogou a bola com a mão, os comentadores do jogo começaram a preencher um requerimento à FIFA com vista à irradiação do defesa brasileiro, e depois lamentaram que o árbitro tivesse aplicado as regras, mostrando apenas um amarelo. O único brasileiro a quem os nossos jornalistas não arreganharam o dente foi mesmo o Pepe. Curiosamente, também foi o único brasileiro que merecia, de facto, ter sido expulso. Nas entrevistas rápidas e conferências de imprensa, o modelo das perguntas é sempre o mesmo: trata-se de elogios com um ponto de interrogação no fim. Fulano de Tal, não é um enorme orgulho acabar a fase de grupos sem qualquer golo sofrido? Ninguém se lembra de perguntar, ainda que de passagem: Fulano de Tal, não é um bocadinho preocupante acabar a fase de grupos tendo conseguido marcar golos apenas à Coreia do Norte?
Entretanto, os meus compatriotas continuam divididos: scolaristas de um lado e queirozistas do outro. Pela minha parte, nunca achei que Scolari e Queiroz fossem treinadores que merecessem clube de fãs. É verdade que Scolari é o treinador mais bem sucedido de sempre da Selecção Nacional, mas talvez isso diga mais dos seleccionadores que temos tido do que dele. Quanto a Queiroz, parece assombrado pelo fantasma de Scolari. E, por isso, aparentemente resolveu emular o treinador que mais retumbantemente venceu Scolari: Otto Rehhagel. O ex-seleccionador da Grécia teria apreciado a equipa portuguesa que ontem empatou com o Brasil. Estavam em campo dois laterais esquerdos, quatro centrais, dois médios, um extremo e um Danny - cuja posição confesso que ainda não percebi exactamente qual é. A selecção portuguesa está, por tanto, assombrada por dois fantasmas: o de Scolari e o de Rehhagel. Se algum médium conseguir convocar o fantasma de Mourinho, talvez Portugal seja campeão.
Há um limite para além do qual a rivalidade clubística deixa de fazer sentido. Uma coisa são saudáveis picardias, outra são altercações azedas. A BOLA tem colunistas do Benfica, do Sporting e do Porto, e tanto benfiquistas como sportinguistas devem reconhecer, sem sectarismo, que se encontram em desvantagem. O Porto é o único que tem, entre os seus representantes neste jornal, um homem que além de colunista, é um escritor e dos bons. Um abraço para o Francisco José Viegas.
Ricardo Araújo Pereira, 26 de Junho 2010, A Bola
[Sobre a contratação de Villas-Boas] (…) não tenho opinião formada (e quem poderá tê-la?)
Miguel Sousa Tavares
A Bola, 8 de Junho de 2010
“É uma escolha fantástica”.
Rui Moreira
Antena 1, 2 Junho de 2010
A abordagem de Pinto da Costa a Jorge Jesus não resultou. Acontece. Por uma qualquer razão difícil de explicar, o treinador do campeão nacional não se mostrou interessado em ir orientar o terceiro classificado na Liga Europa. Enfim, nem todos os contactos do presidente do Porto podem ser tão bem sucedidos como aquele telefonema que manteve com o árbitro Augusto Duarte. E, além disso, é natural que os treinadores vivos desconfiem de um presidente que falha as promessas a treinadores falecidos. Benfiquismo à parte, foi pena. Sinceramente, gostaria de ter visto a equipa técnica que Jorge Jesus iria formar no Porto. Este adjunto que Pinto da Costa acabou de contratar podia ser um excelente ajudante de Raul José, Miguel Quaresma, Mário Monteiro e Pietra. Quem sabe se, no futuro, Villas-Boas não pode ainda integrar a equipa técnica de Jorge Jesus e aí demonstrar todo o seu celebrado talento para a observação e a estatística?
Tal como sucedeu nos processos de Domingos Névoa e Fátima Felgueiras, também o processo Apito Dourado terminou sem qualquer condenação por corrupção. O empresário Manuel Godinho, detido no âmbito de processo Faca Oculta, de quem se diz erroneamente que aguarda julgamento, na verdade aguarda absolvição. Os processos têm pontos de contacto notáveis. Fátima Felgueiras foi passar uma temporada ao Brasil, talvez no mesmo avião em que viajou Carlos José Amorim Calheiros, conhecido como Carlos Calheiros para efeitos de arbitragem e como José Amorim para fins turísticos. Por outro lado, enquanto Manuel Godinho oferecia peixe, Pinto da Costa oferecia fruta. Tudo víveres que devem fazer parte de uma alimentação saudável. Quanto mais não seja por semelhante elevação de princípios, não admira que não haja tribunal que se atreva a condenar esta gente.
Esta semana trouxe boas notícias e más notícias. A boa notícia é que Rúben Amorim foi chamado à Selecção. A má notícia é que foi chamado à Selecção portuguesa. Por um daqueles enormes azares, o rapaz não pode integrar uma equipa cuja categoria e ambição estejam à sua altura, infortúnio que partilha, aliás, com Fábio Coentrão. Que se apoiem mutuamente nesta hora difícil e voltem sãos e salvos, é o que lhes desejo. Até porque a equipa portuguesa continua a jogar um futebol desorganizado, com jogadores que parecem não saber o que estão a fazer em campo. Liedson, por exemplo, está de tal forma mal integrado na equipa que quem não soubesse até diria que é estrangeiro.
Depois de André Villas-Boas (sete épocas de Mourinho), Baltemar Brito (seis épocas de Mourinho) é o segundo adjunto do Special One a ser contratado para treinar um clube português. O Belenenses, sem capacidade financeira para sete épocas de Mourinho, teve de se contentar com seis. Além de que Baltemar Brito veste pior do que Villas-Boas, e não é ruivo. Nisto do futebol, a qualidade custa dinheiro, e tanto os fatos de bom corte como a coloração capilar têm um preço elevado, até pelos pontos que rendem no final da época. Segundo consta, o barbeiro de José Mourinho está nos planos do Trofense. Ora, na qualidade de cidadão que já trocou quatro SMS com o Special One, aproveito esta oportunidade para fazer saber ao mercado que não estou disponível para orientar equipas. Mas, ao que me dizem, o corta-unhas de José Mourinho vai mesmo treinar o Arrentela.
Ricardo Araújo Pereira, A Bola, 12 Junho 2010
Creio que, este ano, a euforia injustificada de pré-época dos benfiquistas encontra justo contraponto na depressão justificada de pós-época dos portistas. Os festejos da vitória na Taça de Portugal foram discretos, como se o facto de o plantel mais caro da história do futebol português ter conseguido bater tangencialmente uma equipa acabadinha de ser despromovida da Liga de Honra à II Divisão não merecesse ser celebrado com estardalhaço. Vá lá uma pessoa compreender os humores dos adeptos. Sendo embora um troféu que, não fosse o Diabo tecê-las, Pinto da Costa optou por não prometer a qualquer alma d'aquém ou d'além túmulo, trata-se de uma taça importante. Ainda assim, a esmagadora maioria dos portistas não teve interesse em vitoriar os heróis que tinham acabado de se superiorizar pela margem mínima a Bamba, Lameirão e seus pares. Já vi festas de aniversário com mais convivas do que a festa da Taça. E funerais um pouco mais animados.
Os balanços de fim de época são sempre inevitavelmente injustos, e temo que todas as apreciações finais da magnífica época do Sporting tenham esquecido um jogador que merece referência, até por ser, creio, aquele que tinha o currículo mais rico do plantel, em termos de conquistas: Angulo. A contratação do jogador insere-se numa bonita tradição sportinguista que deve ser recordada. Angulo é um digno sucessor daquele que foi, para mim, o melhor futebolista de sempre do Sporting, e talvez o que mais títulos conquistou na carreira: Frank Rijkaard, que, como certamente se lembram, brilhou de leão ao peito durante cerca de três horas e meia em 1987. É possível construir um onze de sonho só com profissionais que representaram o Sporting durante menos de uma semana. Rijkaard e Angulo são titulares indiscutíveis, obviamente. Vicente Cantatore teria de ser o treinador. E Sá Pinto o director desportivo.
Rui Moreira, evidentemente melindrado por, como ele próprio diz, eu ousar fazer — imagine-se! — «copy/paste fora de contexto» das suas doutas opiniões, parece estar convencido de que me ofende quando diz que os anúncios do MEO não têm graça. Imagino que os senhores da agência de publicidade, que são quem realmente concebe e redige os anúncios, tenham passado a dormir com mais dificuldade desde que Rui Moreira resolveu presentear os leitores d' A BOLA com as suas pertinentes críticas de publicidade, mas eu não tenho interesse nem mandato para os defender. Por outro lado, devo agradecer as palavras simpáticas que dedicou à rábula em que satirizávamos o discurso repolhudo de Manuel Machado. Se me lembro do sketch, Rui? Claro que lembro. Esse fomos mesmo nós que escrevemos. E não foi difícil: limitámo-nos a fazer copy/paste fora de contexto de umas declarações meio bacocas do antigo treinador do Nacional. É um estratagema humorístico ao qual continuo a recorrer amiúde. Resulta tanto melhor quanto mais bacocas forem as declarações citadas. Este ano tenho tido muita sorte com a colheita, sabe?
Ricardo Araújo Pereira, 22 de Maio de 2010 - Jornal A Bola
Surpresa! Benfica Campeão
Recordar é viver:
«Acontratação do Saviola é igual à do Aimar no ano passado. Se fossem mesmo bons, se estivessem na parte boa da carreira, não vinham para o Benfica. Quero descobrir novos talentos, jogadores que possam dar tudo pelo Benfica e não acabar a carreira e passar férias. (…) Com estes jogadores, o Benfica vai fazer uma grande figura no Torneio do Guadiana».
Bruno Carvalho, candidato à presidência do Benfica, 27 de Junho de 2009.
«A aposta em Saviola faz lembrar a do ano anterior em Aimar: jogadores que já tiveram nome e que por isso são pagos caro e com elevadíssimos ordenados, mas que há vários anos não passam do estatuto de suplentes de luxo em Espanha.»
Miguel Sousa Tavares, 7 de Julho de 2009.
«(…) não vejo ninguém [no plantel do Benfica], nem o Luisão, que desperte o interesse de um clube disposto a pagar dinheiro que se veja (…). Eu, pessoalmente, não quereria, para o plantel do FC Porto, um só dos que constituem o do Benfica. Um só.»
Miguel Sousa Tavares, 30 de Junho de 2009, referindo-se ao plantel do Benfica da época transacta, que incluía nomes como Di Maria, David Luiz ou Cardozo, para dar apenas três exemplos de jogadores sem qualquer valor de mercado.
«O Benfica, quando bem pressionado no meio-campo, torna-se frágil».
António Tavares-Teles, 23 de Setembro de 2009.
«Adivinho, pois, um Benfica crescentemente impaciente, para dentro e para fora, a protestar contra tudo e todos quando as coisas não lhe correrem de feição e convencido, como de costume, que lhe basta alinhar vedetas como Aimar ou Saviola ou outras tidas como tais, para que o mundo lhe caia aos pés e todos se disponham a prestar-lhe vassalagem.»
Miguel Sousa Tavares, 30 de Junho de 2009.
«[Jorge Jesus] (…) estreou-se no comando dos encarnados com um empate frente à modesta equipa do Sion. (…) Relevante não foi (…) o empate frente aos suíços, mas as declarações de Jorge Jesus, após o jogo. Disse ele que vai ser muito difícil «travar este Benfica». Porquê, é que não entendi: por que razão uma equipa que, mesmo com todas as desculpas e atenuantes, tinha acabado de ser travada pelo Sion, há-de ser muito difícil de travar… por um FC Porto, por exemplo?»
Miguel Sousa Tavares, 14 de Julho de 2009. Quem nos dera que o mundo respondesse a todas as nossas inquietações com a mesma eloquência com que se encarregou de responder a esta.
«O Benfica em grande euforia. O novo treinador está satisfeitíssimo e confiante, e garante que ninguém será, doravante, capaz de travar a sua equipa. Os adeptos rejubilam com as boas novas, os jornalistas excitam-se com as exibições e encantam-se com Jesus e com a sua prosápia. Tudo isto é habitual e vulgar. Afinal, é preciso vender jornais, há seis milhões de almas que desesperam por boas notícias e, mais não seja para sairmos da crise, não se lhes pode retirar a esperança durante os meses de verão.»
Rui Moreira, 17 de Julho de 2009.
«(…) há, no mínimo, algum exagero relativamente às conquistas encarnadas.
Uma nota para o Sporting, que tem sido muito desvalorizado mas conseguiu, para já, o seu primeiro objectivo a caminho da Liga dos Campeões. Paulo Bento tem sabido concorrer com menos argumentos e, por isso, tenho a certeza que a sua equipa estará, certamente também, na corrida ao título nacional.»
Rui Moreira, 7 de Agosto de 2009. É incrível que, com esta capacidade para analisar o fenómeno futebolístico, Rui Moreira tenha o seu espaço reduzido a um programa de televisão e a uma coluna de jornal. Para quando uma rubrica na rádio?
«(…) a equipa [do Benfica] parece acusar o esforço prematuro do princípio da época».
Rui Moreira, 18 de Dezembro de 2009.
«Durante muito tempo, achei (…) que, com túnel ou sem túnel, o Benfica merecia ganhar este campeonato, porque era a equipa que melhor jogava (…). Mas a verdade é que um campeonato não são 15, nem 20, nem 25 jornadas: são 30 e o saldo final deve-se fazer às 30. E, no último terço do campeonato, desapareceu aquele Benfica que jogava mais e melhor.»
Miguel Sousa Tavares, 11 de Maio de 2010.
«(…) para grande irritação de alguns portistas, reafirmo, uma vez mais, os elogios que tenho feito, desde o início da época, ao futebol jogado pelo Benfica.»
Miguel Sousa Tavares, 23 de Março de 2010. Ou seja, já durante o último terço do campeonato.
Arquive-se!
P.S.: Algumas estatísticas curiosas deste campeonato: Weldon termina a prova com cinco golos marcados, exactamente o mesmo número de golos obtidos pelo super-hiper-ultra-extraordinário Givanildo, embora o super-hiper-ultra-extraordinário Givanildo tenha jogado mais 1091 minutos que Weldon, ou seja, o equivalente a um pouco mais de 12 jogos.
Nas jornadas em que pôde contar com o super-hiper-ultra-extraordinário Givanildo, o Porto perdeu três jogos e empatou dois. No período em que o super-hiper-ultra-extraordinário Givanildo esteve castigado só por ter participado num espancamento, o Porto perdeu apenas um jogo e empatou três. Em resumo, o Porto com Givanildo perdeu 13 pontos; sem Givanildo perdeu apenas 9. Maldita Comissão Disciplinar da Liga!
Jorge Jesus acaba o campeonato na dupla qualidade de campeão e vice-campeão, como autor material do título do Benfica e autor moral do segundo lugar do Braga, clube no qual foi o último treinador a vencer um título, a Taça Intertoto.
Miguel Sousa Tavares, em quem as exibições da equipa de futebol do Porto têm feito despertar um profundo amor pelo ténis, resumiu muito bem o último fim-de-semana desportivo. Fez referência à boa prestação de Frederico Gil no Estoril Open e anunciou a atribuição da Bola de Prata Imaginária a Falcao — cerimónia que não teve a cobertura noticiosa que merecia: uma vez que MST persiste em chamar Radomel a um desgraçado que se chama Radamel (logo ele, que é tão sensível com os nomes próprios), pela primeira vez na história um jogador que não existe venceu um troféu de fantasia, o que coloca dificuldades filosóficas extremamente interessantes. Mas, muito provavelmente por modéstia, MST não incluiu na lista de vitórias do fim-de-semana o troféu que o Porto ganhou: a Taça Rennie. Do ponto de vista digestivo é irónico que um campeonato ganho sem recurso à indigesta mistura de café com leite, rebuçadinhos e fruta tenha, ainda assim, causado tanta azia.
Ricardo Araújo Pereira, 15 de Maio de 2010 jornal "A Bola"
Insultos de consolação
Linda e comovente, a homenagem que o tribunal obrigou o Sporting a prestar a Iordanov. Eu bem vi as lágrimas a marejarem os olhos do búlgaro quando José Eduardo Bettencourt, obedecendo à ordem judicial, lhe ofereceu uma lembrança. São sempre emocionantes, estas manifestações de gratidão que os clubes têm para com os seus heróis com o objectivo de evitar punições legais. Um juiz decretou que houvesse decência em Alvalade, e eles não tiveram outro remédio senão acatar a decisão. A lei é dura, mas é a lei.
Ricardo Araújo Pereira - A Bola - 8 de Maio de 2010
ONDE se lia «o pobre injustiçado Hulk» deve agora ler-se «o pobre injustiçado Falcão». Onde se lia «o maléfico Ricardo Costa» deve agora ler-se «o maléfico Pedro Henriques». Onde se lia «o inocente Hulk espancou mesmo o steward mas não merecia o castigo» deve agora ler-se «o inocente Falcão acertou mesmo com a mão na cara do adversário mas não merecia o castigo».
No mais, a choradeira mantém-se igual. Compreende-se. O Benfica vai à frente no campeonato, o que é muito estranho: o presidente do clube não convidou qualquer árbitro para sua casa na véspera de um jogo, não foi escutado a oferecer fruta e rebuçadinhos ao telefone, não pagou facturas de viagens ao Brasil, não prometeu quinhentinhos a ninguém. Além disso, parece consensual que o Benfica joga o melhor futebol. Quem não suspeitaria deste primeiro lugar?
RECORDAR É VIVER...
«Ao fim da 2.ª jornada da I Liga, podem tirar-se já algumas conclusões. Uma: que o FC Porto é, dos três grandes, a equipa mais consistente. (…) Outra: que, perante equipas mesmo inferiores à sua no papel, o Benfica de Jorge Jesus não vai lá. (...) Aimar, Saviola e Di María não são, como já o vêm demonstrando há muito, jogadores (digamos assim) de campeonato.»
António Tavares-Teles, 25 de Agosto de 2009.
«(…) parece que (…) vira o disco e toca o mesmo: o FC Porto continua a ser o grande favorito a dominar a nova época que aí vem, a nível interno.»
Miguel Sousa Tavares, 21 de Julho de 2009.
«Eu sei que ainda é cedo para tirar conclusões, e não é meu timbre embandeirar em arco, mas gosto da nova equipa do FC Porto. Quer-me parecer que temos uma equipa muito lutadora, e na boa tradição das velhas equipas portistas, com jogadores que dão tudo o que podem e que se esfarrapam para conseguirem ganhar cada bola, cada duelo. (…) pelo que me foi dado ver, chegou mais um lote de jogadores com essas características. Teremos, pois, nesta nova época, uma equipa de combate, com diversas alternativas (…)»
Rui Moreira, A Bola, 31 de Julho de 2009.
«O Porto conseguiu três vitórias e (…) a equipa dá sinais de ter amadurecido e começa-se a esquecer Lucho e Lisandro».
Rui Moreira, 9 de Outubro de 2010.
«Ao contrário do que alguns dão a entender, o grande adversário do FC Porto no campeonato é o Braga e não o Benfica»
Pinto da Costa, Outubro de 2009.
«(…) o facto de o Porto estar mais forte, ter tantas opções e parecer mais à vontade fora de casa é muito animador (…).»
Rui Moreira, 11 de Dezembro de 2010.
«Nós vamos a partir de hoje aqui solenemente dizer-lhe, interpretando o pensar dos treinadores aqui presentes, dos jogadores aqui presentes, que nós queremos este ano dedicar a vitória do campeonato a si. A si, que vai ser campeão.»
Pinto da Costa, dirigindo-se a uma fotografia de José Maria Pedroto, e interpretando vários pensares, 7 de Janeiro de 2010.
«Caiu bem a promessa de Pinto da Costa de oferecer este campeonato a Pedroto.»
Miguel Sousa Tavares, 12 de Janeiro de 2010.
«Todos os anos têm-me dado gozo ganhar, mas este ano vai dar ainda mais. Confesso que esta época vai dar-me claramente mais gozo ganhar.»
Jesualdo Ferreira, 13 de Fevereiro de 2010.
«Somos Porto e vamos continuar a ganhar.»
Nuno Espírito Santo, 20 de Fevereiro de 2010. Oito dias antes de ganhar 3 do Sporting, 17 dias antes de ganhar 5 do Arsenal e um mês antes de ganhar 3 do Benfica.
«(…) o autoproclamado maior candidato ao título deste ano (…)»
Miguel Sousa Tavares, 16 de Dezembro de 2009. Referindo-se, surpreendentemente, ao Benfica.
«Na sequência das negociações encetadas, a Futebol Clube do Porto — Futebol, SAD vem comunicar (…) ter finalmente chegado a um princípio de acordo com o Cruzeiro Esporte Clube, para a aquisição dos direitos de inscrição desportiva do jogador Kleber.»
Comunicado oficial do Porto, 29 de Janeiro de 2010.
«Hulk (…) não sabe jogar de costas para a área (…). Além disso, parece ter entendido mal os recados do treinador e o mais que dele se viu foi que se entreteve a adornar as jogadas, a tentar 'quaresmices' e a simular faltas.»
Rui Moreira, 25 de Setembro de 2009. Cerca de três meses antes de Hulk passar a ser o melhor jogador do mundo, depois de galardoado com a expulsão na Luz.
«Gostei de ver Hulk sentado no banco. (…) talvez lhe devessem ter explicado que fora preterido por causa dos seus tiques e individualismo, das suas inócuas simulações. Talvez assim tivesse optado por uma outra atitude, logo que surgisse a oportunidade de jogar. Em vez disso, e como tem sido costume, Hulk foi de pequena utilidade quando entrou.»
Rui Moreira, 27 de Novembro de 2009. 23 dias antes de Hulk passar a ser absolutamente indispensável e decisivo na equipa do Porto.
«Uma desilusão. (…) Desconcentrado, desconsolado, conflituoso.»
«(…) esperava-se (…) que criasse embaraços à defesa benfiquista.»
«(…) a inspiração jamais foi a desejada, sendo que, aqui e ali, até abusou do individualismo.»
A Bola, O Jogo e Record, respectivamente, apreciam a prestação de Hulk no dia em que foi castigado e passou a ser uma espécie de mistura entre Ronaldo e Messi, mas para melhor. 21 de Dezembro de 2010.
«Sempre achei e sempre o disse que, em minha opinião, as equipas verdadeiramente vencedoras não perdem tempo a discutir árbitros nem a queixar-se de arbitragens.»
Miguel Sousa Tavares, 3 de Novembro de 2009.
« (…) atentem no golo que todos concordam ter sido mal anulado ao FC Porto (…)»
Miguel Sousa Tavares, 3 de Novembro de 2009.
«O que valeu ao Benfica em Olhão foi (…) um fiscal de linha desatento à posição de Nuno Gomes no golo do empate e um árbitro atento ao facto de domingo haver um Benfica-Porto, quando se encaminhou para Cardozo, depois de expulsar Djalmir, e pelo caminho mudou o vermelho a Cardozo para amarelo.»
Miguel Sousa Tavares, 15 de Dezembro de 2009.
«(…) antes haviam sido anulados dois golos ao FC Porto, um dos quais duvidoso e o outro claramente mal anulado (…); havia sido validado o primeiro golo do Leiria, também em posição duvidosa, mas com diferente critério de apreciação».
Miguel Sousa Tavares, 19 de Janeiro de 2010.
«Façam o choradinho que quiserem, esta é a minha opinião: futebol assim, com (…) árbitros que protegem o anti-jogo e os sarrafeiros, não vale a pena esperar por público nas bancadas.»
Miguel Sousa Tavares, 16 de Fevereiro de 2010.
«Segundo 'A Bola', o Benfica ganhou no Funchal 'à campeão'. (…) sinceramente, não sei se o teria conseguido sem o que me pareceram dois erros de arbitragem em dois minutos (…).»
Miguel Sousa Tavares, 16 de Março de 2010.
«(…) já lá vão quatro golos limpinhos anulados ao Falcão.»
Miguel Sousa Tavares, 16 de Março de 2010.
P.S. Mesmo correndo o risco de, em termos humorísticos, não conseguir fazer melhor do que os intervenientes anteriores, gostaria de acrescentar o seguinte: ao que parece, Jesualdo Ferreira obteve grandes vitórias no Porto, foi importantíssimo na história do clube, mas este ano demonstrou que o seu tempo no Dragão chegou ao fim. Já Pinto da Costa obteve grandes vitórias no Porto, foi importantíssimo na história do clube, e este ano demonstrou que o seu tempo no Dragão ainda agora está a começar. O anúncio da sua recandidatura à presidência deve, por isso, ser saudado com entusiasmo. Por um lado, permite-lhe acabar de cumprir o castigo de dois anos de suspensão por tentativa de corrupção, que seria uma pena não levar até ao fim na posse das funções nas quais foi castigado; por outro, é evidente que o máximo responsável por ter apetrechado o plantel do Porto com Prediger, Guarín, Tomás Costa ou Valeri, e o plantel do Braga com Luís Aguiar, Alan e Renteria, é o portista mais bem colocado para liderar o clube nos próximos anos. Além disso, o Porto ainda pode fazer história nesta época: a manter o terceiro lugar, é a primeira vez que um tetracampeão acaba o campeonato atrás do Braga. A boa gestão dá muitas alegrias.
Por Ricardo Araújo Pereira, 24 de Abril 2010 - "A Bola"
O PORTO ESTÁ BEM COLOCADO PARA GANHAR A TAÇA DOS TÚNEIS
"Acho que o castigo a Vandinho é injusto, tendencioso e vergonhoso
Rui Moreira, 19 de Fevereiro de 2010"
"Vivemos (…) num país onde há gente com decência, competência e bom senso, como agora se comprova. (…) Infelizmente, a justiça chega tarde e a más horas"
Rui Moreira
A justiça desportiva tem particularidades que podem escapar aos leigos, mas é fácil de entender pelos juristas — e pelos comerciantes, contanto que usem gravata. Aos olhos de um ignorante, uma decisão iníqua não pode, em princípio, ser mantida por gente com decência, competência e bom senso, mas um especialista em justiça desportiva sabe que o mesmo castigo pode ser infame quando decidido pela Comissão Disciplinar da Liga e justo quando confirmado pelo Conselho de Justiça da Federação. Aos outros, só lhes resta procurar compreender uma ciência que, aparentemente, não está ao seu alcance. Que se passou, então, entre aquele dia de Fevereiro em que Rui Moreira considerou injusto, tendencioso e vergonhoso o castigo de Vandinho e o dia de Março em que lhe pareceu que as pessoas que o confirmaram eram decentes, competentes e assisadas? É fácil: passaram quatro jornadas e o Porto continuava a oito pontos do Braga.
Vinte e três dias antes das agressões dos bons pais de família no túnel da Luz, Rui Moreira comunicava aos leitores d'A BOLA quanto gostava de ver Hulk sentado no banco. Segundo Rui Moreira, que certamente acompanha os jogos do Porto com mais atenção do que eu, Hulk era um jogador individualista, dado a tiques e simulações inócuas, e era costume o seu contributo à equipa ser de pequena utilidade. No entanto, menos de um mês depois, Hulk passou de suplente inútil a titular genial que só não carregava sozinho a equipa rumo ao penta porque a Liga não deixava. Que se passou, então, entre aquele dia de Novembro em que Rui Moreira defendeu que Hulk devia jogar menos e o dia de Dezembro em que ele começou a lamentar que ele não pudesse jogar mais? É fácil: o Porto perdeu e ficou a quatro pontos do Benfica.
Assim se vê a gratidão das pessoas: Rui Moreira queria ver Hulk no banco. A Liga, cumprindo um regulamento aprovado com o voto favorável do Porto, mandou-o para a bancada. Em lugar de agradecer a fineza, Rui Moreira protesta até hoje. São feitios.
Depois de ter visto a entrada de João Moutinho sobre Ramires e a patada de Miguel Veloso nas costas de Kardec, Costinha foi à conferência de imprensa dizer que o Luisão tinha sido um bocadinho bruto. Este é o mesmo Costinha cuja delicadeza em campo todos recordamos com saudade. O mesmo que, no jogo de estreia no campeonato português, pelo Porto, foi expulso (curiosamente, em Alvalade) ainda na primeira parte. Imagine o leitor que Keith Richards, o guitarrista dos Rolling Stones, convocava uma conferência de imprensa para dizer aos jornalistas que estava indignado com a quantidade de drogas que esta juventude consome. Era mais ou menos equivalente.
Há uns meses, José Eduardo Bettencourt disse que os sportinguistas ainda iriam ter saudades de Paulo Bento. Só não avisou que também ainda iriam ter saudades de Pedro Barbosa, Sá Pinto e Soares Franco. Por este andar, qualquer dia ainda suspiram pelo Jorge Gonçalves.
Valeu a pena o investimento feito pelo Porto: o plantel mais caro do futebol português está bem colocado para, esta época, ganhar uma taça ao Chaves. Trata-se, recordo, do troféu que ficará conhecido como «a taça dos túneis», porque foi no túnel de Braga que Cardozo foi castigado por não agredir ninguém, e por isso falhou o jogo em que o Benfica seria eliminado frente ao Guimarães. Perdemos uma boa oportunidade de organizar uma vigília, foi o que foi.
Ricardo Araújo Pereira in A Bola - 17 Abril de 2010
Passaram já mais de 15 dias sobre a final da Taça da Liga e não há ainda notícia de castigos para os jogadores do Benfica.
Conforme foi noticiado, os stewards contratados pela Liga de Clubes para, no entender da Comissão de Disciplina da Liga, zelarem pela segurança no estádio e, no entender do Conselho de Justiça da Federação, assistirem ao jogo a partir do túnel, pertenciam à empresa de segurança que patrocina o Braga.
Ora, um patrocinador tem um interesse objectivo em que a equipa que patrocina seja campeã, pelo que estavam reunidas condições para uma tenebrosa armadilha cujo resultado inevitável seria o castigo prolongado de futebolistas do Benfica que tivessem na manobra da equipa o peso equivalente ao de, por exemplo, Sapunaru no Porto. Um drama. Nesse caso, por que razão não foi organizada uma vigília antes da final? Por que motivo não houve ninguém, da parte do Benfica, que denunciasse a pérfida cilada?
Porque todos sabíamos que, mesmo que os jogadores do Benfica ouvissem provocações ultrajantes do calibre de um «vão lá para dentro», ou um ainda mais infame «voltem lá para cima», iriam adoptar uma estratégia — manhosa, admito — para não serem castigados.
Essa estratégia matreira é (e espero que os leitores mais sensíveis não fiquem chocados com a indignidade da marosca): não agredir stewards.
Trata-se de um comportamento que, beneficiando embora o clube de que sou adepto, não tenho quaisquer dúvidas em condenar — desde logo por ser indigno de um bom chefe de família.
Mas é assim, de astúcia vil em astúcia vil, que a equipa do Benfica se vai esquivando das punições.
Por causa de um penálti inventado, o Braga conseguiu ficar temporariamente a três pontos do Benfica, que tinha dias depois uma deslocação difícil e vai jogar ainda contra Sporting e Porto.
Quem beneficiou com aquele penálti? O Braga? Claro que não.
Segundo já li e ouvi, o beneficiado foi o Benfica.
Quem beneficiou com os castigos de Vandinho e Mossoró? Os clubes que seguem atrás do Braga e dependem de terceiros para o ultrapassar? Claro que não.
Segundo li e ouvi durante meses, o beneficiado foi o Benfica.
Em resumo, quando o Braga é beneficiado, o Benfica beneficia; quando o Braga é prejudicado, o Benfica beneficia. Deve ser a isto que chamam o andor.
Quando Rentería se encontrou em Lisboa com um elemento da equipa técnica do Benfica para lhe pedir um favor, Domingos resolveu prevenir-se tirando a titularidade ao jogador.
As palavras exactas do treinador do Braga foram: «Antes do jogo tive de lhe comunicar que ele não ia jogar para o proteger, não fosse ele escorregar dentro da área e fazer um penálti, quando os colegas, umas horas antes do jogo, o viram junto de um elemento que toda a gente sabe quem é.»
Foi excesso de zelo. Na semana passada, Rentería escorregou dentro da área, fez um penálti e os colegas adoraram.
Raras vezes se terá colocado um dilema filosófico tão intrincado: quem se está a beneficiar quando se assinala um penálti inexistente sobre Rentería? O Braga, que é o clube em que ele joga? Ou o Porto, que é o clube a que pertence? Se o Rentería cair na floresta e não estiver lá ninguém para ouvir, fará barulho? Não sei, mas será penálti de certeza.
Tanta choradeira por causa das quedas de Aimar, Di María e Saviola e afinal o jogador que beneficiou do penálti mais escandaloso do campeonato joga no Braga e pertence ao Porto. A realidade prega partidas giras.
Envergonho-me de não ter acreditado em Jesus quando o contrataram. Fui como São Tomé: tive de ver as chagas para acreditar. Neste caso, as chagas que Jesus inflige nos adversários. Jorge Jesus já venceu a Taça da Liga, cilindrando Sporting e Porto, mas também ofereceu a sportinguistas e portistas a maior vitória que tiveram esta temporada: a derrota do Benfica por 4-1 com o Liverpool.
É um técnico que agrada a todos, portanto.
Eu, como é evidente, não gostei da derrota. Ao fim de cerca de 30 jogos sem perder, já não me lembrava de como era. Continua a ser desagradável. Mas Jesus continua a ser Jesus, e este Benfica continua a ser o Benfica mais parecido com o que o Benfica nunca devia ter deixado de ser.
Por Ricardo Araújo Pereira in, A Bola, 10/4/2010
Misteriosos Desaparecimentos
(…) só há duas coisas que eu odeio, quando se referem a mim: que me tirem o Miguel do nome e que me ponham a dizer uma palavra que eu nunca uso: «algo»
(…) reconfortando-se ao encontrarem-se uns aos outros na missa algo despovoada desse domingo na vila
(…) eu atravessaria a rua como se flutuasse dentro de um sonho ou de um pesadelo, algo de irremediável se teria então quebrado para sempre
Miguel Sousa Tavares
E, de repente, deixou de se falar no túnel da Luz. Confesso que estou preocupado. Talvez valesse a pena as autoridades competentes lançarem o alerta do costume: «Desapareceu das colunas de opinião o túnel da Luz. Da última vez que foi visto usava uma estrutura de metal coberta por uma lona branca com a marca dos pitons do Fernando. Se alguém possuir informações que nos possam levar ao seu paradeiro, por favor contacte a Polícia de Segurança Pública.» O mais chocante neste desaparecimento é o facto de serem precisamente as mesmas pessoas que mais lembraram o túnel da Luz aquelas que agora o esquecem. Foram meses de análises, lamentos, acusações, queixinhas, vigílias, comunicados — tudo em nome do túnel. Subitamente, depois de duas goleadas e um empate em casa com o 13º classificado, o túnel desapareceu. De repente, as opções do professor Jesualdo são duvidosas, o plantel é pobre, os reforços são fracos, a estratégia falhou e o modelo de gestão morreu. E o túnel? Com que desumanidade se descarta assim uma infraestrutura que, ao longo de tantas semanas, cumpriu com brilhantismo o seu papel de bode expiatório de todos os fracassos? Houve vigílias contra o modelo de gestão? Não. O plantel uniu-se para emitir um comunicado a condenar a sua própria falta de qualidade? Claro que não. Foi tudo feito sempre a pensar túnel, no mesmo túnel que é agora injustamente esquecido. A ingratidão é muito feia.
Mesmo tendo feito uma época menos boa, o clube da estrutura — ah, a estrutura! — continua a dar lições. No Benfica, onde a organização é fraca e a estrutura inexistente, dirigentes e adeptos têm celebrado o bom futebol, as goleadas e a liderança do campeonato. Um erro, evidentemente. São entusiasmos que não se admitem numa gestão altamente profissionalizada. No Porto, a estrutura — ah, a estrutura! — é sólida e não embarca em euforias. O presidente olhou para a tabela, verificou que se encontrava num prometedor terceiro lugar e, com toda a sensatez e realismo, prometeu o título de campeão a vivos e a defuntos. É assim que se gere um clube. Temos muito a aprender.
À chegada de Londres, Pinto da Costa não aproveitou a presença das câmaras e dos microfones para fazer uma das suas habituais e divertidas ironias, ou para atacar o centralismo, ou para declamar José Régio. Na verdade, Pinto da Costa nem sequer apareceu. O gesto, como sempre, foi mal interpretado. Não há, na atitude de Pinto da Costa, a mais pequena falta de solidariedade nem de coragem. Na verdade, foi um gesto de verdadeiro portista: a equipa tinha acabado de fazer história na Europa, e Pinto da Costa não quis roubar o protagonismo aos jogadores e treinador. Quando os jogadores são contratados, é ele que os descobre, que os negoceia, que tem a argúcia de os roubar ao Benfica. Quando levam cinco de um Arsenal desfalcado de Fabregas, Van Persie, Gallas, Djourou, Ramsey e Gibbs, é altura de se reconhecer o mérito ao professor Jesualdo. Há um tempo para tudo.
Por Ricardo Araújo Pereira, 13 de Março 2010 in A Bola