Aniversário do Benfica - 108 anos
Cumpre-se hoje, dia 28 de fevereiro de 2012,108 anos desde que, numa certa farmácia lisboeta, nasceu o maior Clube português. Aqueles que, em boa hora, o idealizaram e criaram, estavam com certeza muito longe de supor a dimensão e a importância histórica do passo que estavam a dar. Viviam-se ainda tempos de monarquia, o Futebol era um simples passatempo para grupos restritos de pessoas mais ou menos próximas, não havia televisão nem rádio, e um clube desportivo, naquele contexto, pouco mais era do que uma agremiação de bairro com o objectivo de proporcionar a prática de uma ou mais modalidades aos seus membros.
O caminho dos êxitos
Com o decorrer dos anos, a popularidade do Futebol subiu em flecha. Os historiadores dirão em que medida, e por quanto tempo, o Ciclismo, e mais tarde o Hóquei em Patins, puderam rivalizar com o pontapé na bola nas paixões do povo luso. Independentemente da beleza dessas duas modalidades (não por acaso, aquelas que, para além do Futebol, mais me encantam), o “desporto-rei” cedo vincou a sua posição, e o seu incremento junto das massas populares acompanhou o engrandecimento do Benfica enquanto seu mais representativo emblema.
A Taça Latina, em 1950, e mais tarde as duas Taças dos Campeões Europeus, trouxeram a internacionalização de que o Clube necessitava para, ao papel que já possuía dentro do Portugal metropolitano e ultramarino (que me perdoem a anacrónica terminologia), acrescentar o de embaixador extramuros de uma bandeira que não trazia então grandes motivos para orgulhar o seu povo.
O Benfica cimentou lugar cimeiro na hierarquia do Desporto português, e nem as faces negras de um Sistema corrupto que, a partir dos anos 80, foi sendo tecido no Futebol (e não só), nem o desvario institucional a que uma precipitada escolha, em 1997, nos levou, foram forças suficientes para beliscar a Mística, a dimensão popular, e a relevância nacional e internacional que o Clube havia alcançado, alicerçada na incondicional paixão de milhões de adeptos espalhados pelo mundo.
O hoje e o amanhã
Chegados a 2012, temos um Benfica poderoso, vibrante e ganhador, perfeitamente à altura dos melhores momentos da sua história.
Mas por muitas e grandes realizações que tenhamos conseguido - mormente nesta última década - o Mundo não pára, “o presente não existe”, como dizia Borges, e o Benfica terá sempre sobre si a responsabilidade de manter este dinamismo e esta vitalidade, pois só assim poderá segurar em mãos o lugar que o destino lhe traçou, e que os seus sócios e adeptos merecem.
Num Mundo muito diferente do de Cosme Damião e Félix Bermudes, o Benfica de hoje deverá saber interpretar a história, e assegurar que o essencial da sua alma ganhadora permanece de pé.
Ao Benfica não cabe andar a reboque de modas mais ou menos prosaicas, mas sim adaptar-se a cada tempo, sem nunca prescindir dos seus valores fundadores. O presidente, Luís Filipe Vieira, tem-nos garantido que, com ele, o Clube será sempre dos Sócios, e essa garantia é algo que jamais poderemos hipotecar. Mas, para além dela, é também importante que o Benfica do século XXI, profissionalizado, empresarializado, actor de mercado a vários níveis, veículo receptor e emissor das mais variadas interacções com a economia e com a sociedade, mantenha sempre a sabedoria de, com tudo isso, ou apesar de tudo isso, não deixar de reconhecer aqueles que com total dedicação o servem, ou serviram, muitas vezes apenas por incorrigível amor clubista.
A velocidade dos tempos modernos (paradoxalmente já há mais de 80 anos caricaturados pelo talento de Charlie Chaplin), o frio cosmopolita da vida quotidiana das principais cidades de hoje, e também a dispersão que o nosso gigantismo frequentemente acarreta, são factores que convidam ao esquecimento dos aspectos mais triviais. Porém, tal como nos ensinou Orwell, por vezes é preciso muita atenção para ver o óbvio. E o Benfica não pode deixar-se atingir por qualquer tipo de cegueira ou deslumbramento passível de minorar a sua coesão enquanto clã ou família (e as palavras não são aqui excessivas), até porque num território de denso mediatismo e múltiplas exigências como é o da competição desportiva, só assim estará perto de cumprir o seu desígnio que, antes de qualquer outro, se resume à palavra “vencer”.
Texto: Luís Fialho
(Artigo de opinião publicado na edição do dia 24 de Fevereiro do Jornal “O Benfica”)