A RESPEITO DE UM ARTIGO DE OPINIÃO DO PROF. MEIRIM
Sr. Professor José Manuel Meirim, com todo o respeito, que é muito, permita-me dizer-lhe o seguinte:
O seu artigo de opinião, publicado no jornal Público a 10 de Outubro de 2010, até pode ser interessante mas, mais do que isso, é redundante. Fala, fala, dá a volta e... nada!!!
Todos sabemos que em qualquer clube existem bons e maus adeptos. Não se trata de querer dizer que só os adeptos do Porto é que são maus, é que são violentos ou que são vândalos. Estes existem, infelizmente, também noutros ou em todos os clubes.
O que interessa aqui é sensibilizar para a não violência do desporto e, no caso sub judice, alertar para que se criem as necessárias condições de segurança e tranquilidade pública, tanto para comitivas como para adeptos em geral. Bem sabemos que estas só nos podem ser oferecidas pelas Forças de Segurança mas, também os clubes, devem envolver-se neste desígnio, para bem do futebol.
A denúncia do Benfica, admito, que também seja estratégica, mas mais importante é colocar a questão da segurança na ordem do dia. Todos sabemos e vimos o que se passou no ano passado na visita do Benfica ao Dragão. Todos nos recordamos dos epísodios das bolas de golfe, dos isqueiros, do autocarro e até das declarações da PSP. Já este ano, no jogo entre o Porto e o Braga, todos vimos bolas de golfe a voar de bancada em bancada... e consequências???? Nada!! No Guimarães vs Porto verificou-se o habitual, naquele estádio, arremesso de cadeiras e, mais uma vez, que consequências??? Nada, a não ser, eventualmente, Multas. O que, convenhamos, não trata rigorosamente nada.
Qualquer dia nos estádios só estão presentes os vândalos. Porque Pais de família, com um mínimo de diligência, não levam os seus filhos ao futebol e pensam 2 vezes em eles próprios participarem nesses eventos.
Deste modo, tudo o que se faça para tentar inverter esta tendência de violência nos estádios e nos seus arredores, deve ter acolhimento de todos aqueles que gostam de Futebol.
Bem Haja, Sr. Professor.
PS: Não quero falar na ligação que destaca entre o Ministro da AI e o Benfica, nem tão pouco, da sua presunção de que o problema é a Cidade do Porto...
PUBLICADO NO JORNAL PÚBLICO A 10.10.10
"1. As organizações têm, como os homens, um discurso. A esta regra não escapam os clubes de futebol ou as sociedades desportivas se entendermos usar linguagem moderna. E essa narrativa transforma-se em política de comunicação ou mesmo em arma de arremesso ao serviço de uma lógica própria.
Alinhavada uma estratégia e definido um objectivo - aqui e acolá moldável às circunstâncias do tempo, do percurso da bola, do apito ou do poste -, procuram os clubes de futebol colocar ao seu serviço - ao serviço de um qualquer objectivo - a agenda mediática. Lança-se isco em busca de colher peixe graúdo.
2. O jogo FC Porto-Benfica está calendarizado para o dia 7 de Novembro. Estamos, pois, a um mês (!) dessa partida. E o que se passou nos últimos dias?
O Benfica, de forma directa ou indirecta, criou um caso: o da violência contra os seus bens - o autocarro - e a sua equipa aquando das viagens ao Norte, em particular, presumo, à cidade do Porto.
Em primeiro lugar, logrou obter uma audiência com o ministro da Administração Interna com vista a solicitar (exigir?) segurança para essas deslocações. Diga-se de passagem que o actual titular da pasta governamental já foi, recentemente, membro de órgão social do clube.
Depois, alcançado esse patamar de notícia, o presidente do Benfica foi mais longe: se ocorrer qualquer acto de violência, maior ou menor, vão ter uma surpresa.
E disso deu amplo reflexo, uma vez mais, a imprensa.
Por fim (?), fontes "fidedignas" foram asseverando aos media que a surpresa passaria pelo retorno a Lisboa da comitiva encarnada, com a lógica falta de comparência ao jogo.
3. Não temos dúvidas - nunca tivemos - de que este tipo de estratégia é transversal a todos os clubes de futebol. Também - inclusive aqui - condenámos a violência no futebol, directa ou indirectamente aceite (e apoiada) pelos clubes (Benfica, FC Porto ou Sporting ou outros que o leitor queira acrescentar). A certeza da omissão do Estado também é perene.
Nada nisto nos surpreende. O que nos motivou a escrever sobre este tema é a sofisticação crescente que se emprega. Começa-se a plantar em finais de Setembro o que se quer colher em Novembro, operação devidamente acompanhada do adubo mediático.
4. Neste caso é o Benfica. No passado foi o FC Porto ou o Sporting. Mas, no futuro, serão os três e muitos mais."
José Manuel Meirim é professor de Direito do Desporto