OS CLUBES DO REGIME
FC PORTO - ESTADO NOVO
SPORTING CP - 1ª GUERRA MUNDIAL
A relevância do acontecimento e o seu significado no histórico do clube exigem que sobre ele falemos com maior desenvolvimento.
A vida do Benfica, até à data da inauguração do novo estádio, foi sempre marcada pela instabilidade e pela precariedade.
Clube popular por excelência, o Benfica sempre se confrontou com difíceis problemas financeiros. E desde muito cedo se habituou a contar com as suas próprias forças, ou seja, com a disponibilidade dos seus dirigentes e da grande maioria dos seus adeptos.
Nas primeiras décadas de vida, foram muitos os momentos de desânimo em que se chegou a temer pela sobrevivência do clube. Para alguns estudiosos deste fenómeno, a circunstância de o Benfica ter enfrentado tais dificuldades, sobretudo no que respeita à falta de infraestruturas à altura do seu prestígio e dimensão e do seu progressivo peso na sociedade portuguesa, terá muito a ver com o facto de não se ter deixado atrair por influências políticas, nem pela simpatia de certas personalidades, sempre prontas a negociar favores e benesses de toda a espécie.
Seja como fôr, a independência do clube relativamente aos poderes instituídos, característica de uma forma de estar que o tempo viria a confirmar, obrigaram-no, até 1954, a "andar de casa às costas". E até se fixar nas Amoreiras, cumpriu uma autêntica via sacra, passando sucessivamente das Salésias para a Feiteira, daqui para Sete Rios e, por fim, de Sete Rios de novo para Benfica (Avenida Gomes Pereira).
A construção da auto-estrada do Estádio, uma das prioridades do então Ministro das Obras Públicas, Eng. Duarte Pacheco, acabaria por confinar a escassos 15 anos a utilização do recinto das Amoreiras.
Mais uma vez o BENFICA, sucumbia aos planos de desenvolvimento urbanístico da cidade, sendo obrigado a transferir-se para o Campo Grande, no dia 5 de Outubro de 1949, de onde só sairia paro o seu novo estádio, o Estádio do Sport Lisboa e Benfica, "poiso da águia" há quase meio século.
A edificação do Estádio foi uma obra colectiva por excelência e um verdadeiro hino às virtudes da solidariedade e da entreajuda. Sob a direcção do então presidente Joaquim Ferreira Bogalho, e a par do incansável trabalho de uma comissão onde se integravam figuras como Agostinho Paula, António Costa e Sousa, António Adão, António Campos Vieira, Augusto Rodrigues, Carlos de Almeida, Francisco Retorta, Dr. João Ferreira da Costa, José Ricardo Domingues Júnior, Justino Pinheiro Machado, Manuel de Almeida Oliveira e Dr. Manuel Paulino Gomes Júnior, já falecidos na sua grande maioria, raros foram os sócios e simpatizantes que se furtaram de dar o seu apoio, em géneros ou em horas de trabalho, à mais empolgante iniciativa alguma vez lançada pelo clube.
"Pude avaliar a grandeza dessa epopeia gigantesca da grande família que quer construir o seu lar. Vi como o operário modesto se esquecia das suas próprias necessidades para ir largar o seu óbolo com a alma a transbordar de ternura.
Estádio de... Carnide a «bem da Nação»
A 1 de Dezembro de 1954, o Benfica inaugurou, pomposamente, o Estádio de Carnide. Só mais tarde lhe haveria de chamar da Luz. Joaquim Bogalho, o «homem do estádio», emocionou-se de tal modo que, para não desfalecer, teve de ser amparado pelos seus colegas de Direcção. Ribeiro dos Reis considerá-lo-ia, pela sua acção em busca do sonho... «o benfiquista número 1». E, naturalmente, houve futebol sobre o relvado ainda fresco. Ganhou o F. C. Porto ao Benfica por 3-1, como afinal, ganhara o Benfica ao F. C. Porto por 7-2 na inauguração das Antas. Enfim, festas trocadas...
O festival de inauguração proporcionou uma receita de 1300 contos, a maior renda arrecadada até esse dia num espectáculo desportivo por um clube português.
Três dias depois, na Assembleia Nacional, o presidente do F. C. Porto, eleito deputado nas listas da UN, elogiou a obra do Benfica como «padrão a atestar às gerações vindouras dos seus associados a fé, a energia, a vontade de quem tão devotadamente soube lutar e soube vencer». E, bem ao exemplo de então, Urgel Horta rematou: «Daqui, do alto da minha tribuna de deputado, velho praticante e dirigente, saúdo o Benfica, apontando-o como exemplo que deve ser imitado e seguido, a bem da Nação.» Pois.
Em 1 de Dezembro, o clube inaugurou o Estádio de Carnide (Luz), velho sonho dos benfiquistas, que punha ponto final nas deambulações pela cidade, desde o Campo da Feiteira ao Campo Grande, já para não se falar das tentativas de Cosme Damião e dos seus pares na área de Belém, quando o SLB era apenas Sport Lisboa. Foi para a equipa que construiu o estádio, especialmente Joaquim Bogalho, um dia de glória.
Extracto de Texto de A BOLA - 50 anos